A visão que temos.



Os dias de chuva podem até ser deprimentes, mas trazem em si uma possibilidade, a de voltarmos para nós mesmo, dentro da casa interior. Adriana Calcanhoto afirma que cariocas não gostam de dias nublados, e ela tem razão. Talvez por que esses dias nos prendam a casa, e nos levem aos pensamentos.

Sexta, sábado, domingo, segunda... haja chuva! Haja tempo para olhar o mundo e a nós mesmos.

A visão que temos do mundo vai mudando na medida em que amadurecemos. A visão que temos do mundo vai mudando na mesma intensidade que muda a visão que temos diante do espelho. Engana-se quem não enxerga as mudanças, do mundo e no espelho. 

Ainda bem que a "visão que temos" esteja em mudança. Aquilo que antes era fundamental, agora passa ser supérfluo. O que era absoluto, vai aos poucos relativizando-se. O que era único pode tornar-se mais um.
As coisas mudam e continuam sendo algo para nós. Nós mudamos para continuar sendo os mesmos.

No fundo nos deparamos com a barreira da incerteza, sem saber se de fato o que vemos ou conhecemos corresponde ao que cremos ou ao que tanto desejamos. Na impossibilidade de banir toda margem de erro, apostamos. Apostamos na sinceridade, na honestidade, na fidelidade, na boa vontade e no esforço. Seguimos apostando e esperando acertar. Mas o que vemos pela frente é muito menos do que aquilo que nós gostaríamos de vislumbrar.

A visão limitada, a certeza fragilizada, a aposta feita, tudo nos prepara para algo eminente: o presente. E nos faz cuidadores deste que é o verdadeiro kairós, ou tempo oportuno. É daqui que colheremos as conseqüências do já vivido. É daqui que prepararemos o que frutificará. Mas a visão que temos, para frente ou para trás, é sempre limitada, carregada de emoções, ansiedades e aflições.

A chuva demora, mas ela é bem vinda! Ela passará. Mas enquanto o dia está cinza, preparemo-nos para o sol.

Comentários